13.11.07

 

Excursionismo e responsabilidade sócio-ambiental

Olá pessoal!

Este mês apresentamos mais um colaborador de gabarito que irá escrever sobre atividades ao ar livre. O nome dele é Fabio Raimo, experiente instrutor de expedições na natureza da NOLS e OBB . Ele escreveu um artigo muito interessante sobre responsabilidade sócio–ambiental e nos descreve de que forma podemos colaborar para influenciar e minimizar o impacto social e ambiental de nossa de nossas atividades na natureza.

Aqui vai o primeiro artigo dele!

Abraços!
Flávio Yamamoto

Excursionismo e responsabilidade sócio-ambiental

Há cada vez mais de nós saindo por ai, à busca de lazer e recreação ao ar livre. Os lugares estão cada vez mais ‘ocupados’ por outros baladeiros de plantão, às vezes turistas e outros usuários. É inegável que hoje em dia a ‘natureza intocada’ é praticamente um mito... Então como é que nós, que saímos por aí a explorar podemos fazer diferença?

Em cada lugar que vamos, podemos ajudar na forma como as comunidades do entorno e até prestadores de serviços de atividades na natureza nesses lugares vêem sua cultura, suas atividades e seu papel. Como diria o Gandhi, ‘devemos ser a mudança que queremos ver no mundo’. Sempre devemos nos perguntar: de que forma o que eu faço e como eu me comporto ajuda (ou atrapalha) influencia aonde eu vou?

Primeiro, é importante que compreendamos que a visitação a locais naturais pode, ou não, ser uma alternativa para ajudar no desenvolvimento sustentável para as regiões visitadas, dependendo de como é feito. Podemos aportar recursos financeiros para a economia local, gerar demanda e oportunidades de formação profissional, fomentar melhoria na infra-estrutura regional, despertar interesse do poder público para questões ambientais, entre outros. Por outro lado, podemos fomentar desenvolvimento desordenado e sem infra-estrutura básica de suporte, subemprego e exploração de mão de obra, geração excessiva de lixo, poluição de mananciais de água, entre outros. Depende de como abordamos nossa interação com esses locais.

Teoricamente, seria ótimo se tivéssemos um poder público capaz e ético que cumprisse o código florestal, fiscalizasse e coibisse irregularidades, proibisse ocupações e construções irregulares, além de fomentar planos de desenvolvimento ordenado e ambientalmente correto. O fato é que essa não é nossa realidade, e no final da estória, muito do que se passa em locais que hoje são nossos ‘recantos/buracos no mato favoritos’ tem a ver em como os visitantes agem nesses lugares.

Você esta no meio de uma caminhada e passa por sítios onde tem um cara cuidando de umas vacas... quer acampar ali. Você vai pra trás de uma crista para que nenhum proprietário te veja? Ou você vai lá, se apresenta, compra um queijinho, troca uma prosa? Muitos dos momentos mais marcantes que eu já tive na minha vida de baladeiro outdoor foram com pessoas que vivem onde para nós é uma área remota – seja sendo ‘conselheiro legal’ de uma comunidade ribeirinha num rio remoto da Amazônia onde o MST aliada aos políticos locais subornados estavam invadindo uma área que era da comunidade há mais de um século; ou medicando uma senhora com muita dor que não podia se mover para ir ao cavalo para ir a clínica; ou uma visita breve que se torna ficar trabalhando junto com um pescador durante dias. Todos nós temos nossas estórias, certamente.

Continuando em nossa jornada como ‘excursionistas’ responsáveis, de que maneira podemos minimizar o impacto social e ambiental de nossas atividades na natureza? Boas dicas são encontradas no artigo do Fuchs neste blog, que é bem parecido com os Princípios de Conduta Consciente em Ambientes Naturais do Programa Nacional de Áreas Protegidas - Ministério do Meio Ambiente.

Independente do tipo de informação e experiência que você quer obter na sua viagem, um requisito que não muda é que os responsáveis pelo grupo devem ter conhecimento, experiência e responsabilidade suficientes para lidarem com os riscos das atividades na natureza. Risco sempre há. O que é necessário é que eles sejam conhecidos e administrados. No Brasil não há padrões de treinamento ou experiência reconhecidos, como por exemplo nos EUA, onde o treinamento amplamente aceito em primeiros socorros é o Wilderness First Responder, um curso teórico-prático de 9 dias ministrado em áreas naturais, e todas as organizações que trabalham com atividades na natureza têm um programa de monitoramento, manejo e resposta a riscos e acidentes.

De novo, cabe aos ‘usuários finais’ a escolha de uma atividade segura ou não. Lembre-se que respostas como “o Zeca é treinado em primeiros socorros e esportes radicais” na verdade não quer dizer nada! Que curso de primeiros socorros? Ministrado por quem? Quem o “declarou” guia competente? Há quanto tempo faz esse tipo de viagens? Etc. Exija as informações que acha necessárias para que fique tranquilo colocando sua vida, de amigos ou familiares nas mãos de terceiros.

Talvez tanta informação e detalhe possa parecer exagero, mas não é, se pensarmos nas possíveis consequencias de seguirmos fazendo o que queremos sem nos preocuparmos com o ‘efeito cascata’ de nossas ações nos locais visitados – cultural, social e ambientalmente falando. Especialmente porque há muitas pessoas, fazendo atividades e oferecendo programas fantásticos, de forma responsável, segura, e ambiental e socialmente correta. Basta encontrá-los. Ou ser um deles.

Abraços e até o próximo artigo,
Fabio Raimo

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